BLOGGER PARA CONSULTA E ACOMPANHAMENTO DOS CONTEÚDOS DESENVOLVIDOS NAS AULAS DA DISCIPLINA CDPEF (CONHECIMENTOS DIDÁTICOS PEDAGÓGICOS EM ENSINO FUNDAMENTAL) COM BASE NO CURRÍCULO MÍNIMO 2013 - SEEDUC, AINDA EM VIGOR.
domingo, 24 de março de 2019
1º BIMESTRE - TEORIAS DO CURRÍCULO
TEORIAS CURRICULARES
Torna-se
necessário entender as teorias que sempre nortearam a definição de um
determinado currículo, em função dos objetivos a serem atingidos. Inicialmente,
as teorias do currículo visavam responder as seguintes questões: Qual o conhecimento
que deve ser ensinado? O que os alunos devem saber? Qual conhecimento é
importante para ser considerado parte do currículo? Por isso, ao longo da história as teorias do
currículo foram vistas sob diferentes perspectivas: teorias tradicionais, teorias
críticas e pós-críticas, diferenciando-se pela ênfase que dão à natureza da
aprendizagem, do conhecimento, da cultura, da política,
ou seja, da sociedade como um todo.
Surgimento e evolução da teoria
curricular
Teoria
Tradicional
A teoria tradicional
surgiu nos Estados Unidos com o objetivo de preparar o aluno para aquisição de
habilidades intelectuais através de práticas de memorização e tem como base a
tendência conservadora, baseada nos princípios de Taylor, que igualava o
sistema educacional ao modelo organizacional e administrativo das empresas. O
conhecimento é concebido como algo estático e objetivo, e o professor cumpre o
papel de transmiti-lo. O aluno, por sua vez, é visto como um receptor passivo
desse conteúdo transformado em objetos de ensino que são os saberes
privilegiados pelo contexto sociocultural da classe dominante, ignorando-se a
cultura dos grupos minoritários. Resumindo, o currículo aparece como um
conjunto de objetivos específicos, procedimentos e métodos para a obtenção de resultados
que deverão poder ser medidos.
Teoria Crítica
A teoria crítica
afirma que não existe uma teoria neutra, já que toda teoria está baseada
nas relações de poder, o foco desloca-se para as questões de
ideologia, saber e poder, que se julga ser disseminadas pela escola.
Paulo Freire influenciou de maneira significativa vários autores críticos que
tratavam de perspectivas curriculares, através de sua obra Pedagogia do
Oprimido, onde ele propõe uma pedagogia com uma nova forma de relacionamento
entre professor, estudante, e sociedade, e, enfatiza que se deve trabalhar a
teoria dialógica, contrária à manipulação das classes menos favorecidas pelas
"culturas", através dos meios de comunicação. A população em si
precisa ser conduzida ao diálogo, canal este de libertação da harmoniosa
opressão imperante. Nesse sentido, o currículo é um local onde ativamente se
produzem, criam significados sociais.
Teoria
Pós-Crítica
Por último, a visão
pós-crítica de currículo vem ampliar e modificar alguns conceitos da perspectiva
crítica, valorizando assim o multiculturalismo com destaque pela
diversidade das manifestações culturais do mundo atual. Nesse sentido
surgem os conceitos de currículos abertos e dinâmicos. A valorização do
multiculturalismo funciona como estratégia política que tenta minimizar
conflitos e desigualdades sociais relacionando-os a diferenças culturais, que,
por sua vez, estão ligadas historicamente à distribuição desigual da riqueza e
do poder político em todas as sociedades modernas. Com efeito, o currículo
pós-crítico enfatiza competências e habilidades, e rejeita-se o currículo
linear, sequencial, estático e sistematizado em troca de um currículo marcado
pela indeterminação e incerteza, visto que o “significado é cultural e
socialmente produzido” (Silva, 2007, p. 123).
É inegável que a
sociedade atual exige das escolas a formação do aluno participativo, reflexivo,
crítico e criativo capaz de operacionalizar as competências e as habilidades
adquiridas durante o processo de ensino-aprendizagem, no entanto, é preciso
enfatizar que, o currículo não diz respeito apenas a uma relação de conteúdos
mas envolve também, segundo HORNBURG e SILVA, 2007, p.1 “questões de poder,
tanto nas relações professor/aluno e administrador/professor, quanto em todas
as relações que permeiam o cotidiano da escola e fora dela, ou seja, envolve
relações de classes sociais e questões raciais, étnicas e de gênero, não se
restringindo a uma questão de conteúdos”.
A
escola moderna encontra-se ainda muito ligada com as correntes tradicionais de
ensino, por isso, muitos professores compactuam com a ideia de que se deve
ocupar da transmissão/assimilação/construção do conhecimento. Em parte, isso é
verdade, na medida em que a especificidade da escola é o trato com o
conhecimento. No entanto, o conhecimento é apenas uma das facetas da cultura
construída e reconstruída no ambiente escolar. Então, a escolha de um
determinado padrão cultural na seleção de conteúdos para um dado currículo
expressa uma valorização desse padrão em detrimento de outros. É verdade que,
todo currículo é um processo de seleção, de decisões acerca do que será e do
que não será legitimado pela escola. A existência de um conjunto de culturas
negadas pelo currículo cria nos alunos pertencentes a essas culturas, um
sentimento de alijamento do que é socialmente aceito.
Criticas às teorias curriculares
As primeiras
críticas à visão tradicional de currículo surgem na década de 60, em meio aos
movimentos sociais e culturais. Um dos motivos da crítica é o fato da visão
tradicional de currículo apresentar-se “neutra”, como um saber desvinculado das
relações de poder e colocar-se como o saber legítimo, universal, do interesse
da humanidade como um todo indistinto. Não tem preocupações em questionar os
arranjos sociais ou educacionais vinculados à estrutura social, fomentando a
aceitação, ajuste e a adaptação. Já a visão crítica de currículo questiona as
desigualdades provocadas pela visão tradicional no sistema de ensino, já que
estas não questionam o conhecimento em si, apenas valorizam o mecanismo de
eficácia da reprodução desse conhecimento. Desloca a ênfase dos conceitos
pedagógicos do processo ensino-aprendizagem para conceitos ideológicos.
De
acordo com a visão crítica do currículo, a sociedade capitalista utiliza a
educação para a reprodução de sua ideologia. É pelo currículo que veicula a sua
ideologia, por meio, não propriamente do conteúdo explícito de suas
disciplinas, mas ao privilegiar relações sociais nas quais, dominantes e
subordinados, aprendem a praticar os seus papéis. Assim, as escolas reproduzem
os aspectos necessários para a sociedade capitalista: trabalhadores adequados a
cada necessidade dos locais de trabalho; líderes para cargos de chefia e
líderes obedientes e subordinados para os cargos de produção. O currículo da
escola está baseado na cultura dominante. Ele se expressa na linguagem
dominante, é transmitido através do código cultural dominante. As classes
dominantes podem facilmente compreender esse código, pois durante toda sua vida
elas estiveram nele imersas. Para as classes dominadas, esse código é
simplesmente indecifrável. Ainda, nessa visão, não existe uma cultura da
sociedade, unitária, homogênea e universalmente aceita e praticada e, por isso,
digna de ser transmitida às futuras gerações através do currículo. A cultura é
vista menos como uma coisa e mais como um campo e terreno de luta. A cultura é
o terreno em que se enfrentam diferentes e conflitantes concepções de vida
social, é aquilo pelo qual se luta.
No limiar do século
XXI surgem as teorias pós-críticas que direcionam suas bases para um currículo
no qual se vincula conhecimento, identidade e poder com temas como gênero,
raça, etnia, sexualidade, subjetividade, multiculturalismo, entre outros. Ela
não toma a realidade tal como ela é, e sim como o que os discursos sobre elas
dizem como ela deveria ser. A realidade não pode ser concebida fora dos
processos linguísticos de significação.
Desta maneira, a
visão pós-crítica distingue o currículo como uma linguagem dotada de
significados, imagens, falas, posições discursivas e, nesse contexto, destaca
que nas margens do discurso curricular se comunicam códigos distintos,
histórias esquecidas, vozes silenciadas que, por vezes, se imiscuem (se
intrometem, se misturam) com o estabelecido, regulamentados e autorizados.
Considerações
finais
Através do panorama
histórico do ensino à luz das perspectivas curriculares, percebe-se que, cada
momento histórico existe diferentes condições sociais, econômicas e culturais
que determinam a ação pedagógica e o ensino. As transformações sociais
provocadas pela democratização do ensino impeliram mudanças significativas no
processo ensino-aprendizagem.
Constata-se que,
através dos anos e sob as diversas perspectivas curriculares, os conhecimentos
viabilizados pelo ensino têm se adaptado às diferentes mudanças e evoluído em
seus objetivos. Como resultado dessa sintonia com a realidade contemporânea,
contempla-se através de seus atuais objetos de ensino, o importante papel do
currículo na formação do aluno, preparando-o para ser um cidadão ativo,
reflexivo e crítico, ampliando suas competências para atuar nas diferentes
esferas da sociedade.
Em suma, embora
várias reformas de currículo tenham acontecido ao longo da história, elas nunca
se tornaram concepções dominante nas escolas. As proposições críticas e
renovadoras, ainda representam experiências isoladas, no contexto educacional,
de forma que as escolas normalmente permanecem voltadas para os fundamentos
reconhecidos como concepção tradicional de currículo, representante de uma, perspectiva
tecnicista. Por isso, é preciso continuar refletindo e questionando sobre
questões teórico-práticas no que tange a teoria curricular e não deixar
esmorecer os ganhos conseguidos até então.
ARLINDO
NASCIMENTO ROCHA
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